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terça-feira, 27 de julho de 2010

HOMENS DO MERCADO



Os homens do mercado com suas roupas de linho, hálito de deserto e corações de narguilé observam a passagem dos transeuntes em frente as suas lojas. Vêm de longe, onde não há meninas de umbigo de fora pelas ruas, onde o sol castiga de dia, o frio a noite e a guerra de tempos e tempos. Falam na sua língua "que deus te abençõe" ou então "estava escrito" e conformam-se que as coisas simplesmente são como tinham de ser. Observam a cidade que cresce ao redor das suas tradicionais lojinhas de vender tudo, têm olhos bonitos e suas mulheres dançam para eles no segredo das alcovas uma dança muito antiga.
As mulheres dos homens do mercado chamam nossos olhos quando andam na rua de véu mostrando só os olhos, muito mais do que os umbigos das meninas daqui...incrível a capacidade que olhos tem de expressar mais do que umbigos quando mostrados.
Enquanto as pessoas vão para os seus trabalhos através das ruazinhas do centro, os homens do mercado conversam na sua língua antiga como se estivessem postados ali há séculos, antes do aterro, antes do cheiro de peixe, antes do próprio mercado ou cidade.
Os homens do mercado com seus hálitos de deserto e corações de narguilé que parecem ser mais antigos que o próprio tempo...
(Carolina Veríssimo)

quinta-feira, 22 de julho de 2010


Você e esses seus olhos de dias quentes
À espera de uma oportunidade somente
De despedaçar a todo instante
Fazer sangrar algum descuidado errante.

Espreita-me por de trás das ruas
Adivinha meus passos nas mãos tuas
Controla minha mente (e o que restou da alma)
Faz tudo isso sem perder a calma.

Arregaça as mangas e o meu instinto
Forçada a cruel verdade já não minto
Verdade cruel assim como carne crua
Como a que cobre minha ossada nua.

quarta-feira, 21 de julho de 2010

Espera


Há uma parte de mim que definitivamente ainda sonha e espera que algo de muito especial aconteça dia após dia, o problema é que normalmente não sei onde deixo essa parte e permaneço descrente, tosca e boicotando sempre a mim mesma.
E isso é algo que somente eu poderia resolver.
Fico sentada na varanda da minha vida presenciando a mediocridade dos dias, o vazio dos amores que acabam e a dor dos que não acabam, sem nunca ter certeza em qual dia da semana estamos.
Esperando um recado reanimador, qualquer coisa que tornasse a vida mais suportável, menos idiota.
Esperando ser salva e tendo cada vez mais a incômoda certeza que ninguém salva ninguém da própria vida,nem sequer nós mesmos, que todo mundo acaba se acostumando com a textura e a temperatura da lama em que está afundando, com preguiça e ressaca demais para sair dela e com a presistente e igualmente incômoda sensação de que tudo ao meu redor está sempre morno e azedo como vômito.
Na agonia de uma espera que parece nunca terminar.
(Carolina Veríssimo)

terça-feira, 20 de julho de 2010

Qualquer


Qualquer lugar da onde eu nunca saia a tua espera
Qualquer tempo que não me envelheça enquanto isso
Qualquer idade que não chegue ,que não passe
Qualquer azul que jamais se desbote e torne-se cinzento.

Qualquer ideal que jamais perca o sentido
Qualquer pessoa que não nos desaponte
Qualquer pedaço de pano que nos aqueça
Qualquer pão que nos amenize a fome.

Qualquer cura para qualquer doença
Qualquer espetáculo bizarro ante aos nossos olhos
Qualquer flor murchando, petála caindo , ou despedida.
Qualquer éter, fuga em qualquer direção...

Qualquer coisa que a nossa imaginação sustente
Qualquer medo que não nos abandone
Qualquer vestígio de originalidade que nos sobre
Qualquer riqueza na mão de qualque pobre.

Qualquer veludo para o nosso tato
Qualquer prazer, qualquer ilusão
Qualquer vazio é o mesmo, é fato
Sem que jamais entendamos senão.

(Carolina Veríssimo)

terça-feira, 13 de julho de 2010



Se o amor chegar e for embora mande lembranças minhas
Faz tempo que não o vejo, talvez tenha mudado
As coisas todas mudam, porque não o amor?
Talvez tenha ele se tornado um velho que não sai mais de casa com dores de reumatismo.
Talvez tenha esquecido os que estiveram perto
Talvez tenha a mesma tosse de cachorro todas as noites
E ainda por cima se bata na cama...
Talvez tenha ficado sozinho depois que as últimas visitas se foram depois de ter tomado toda sua vodca...
Talvez o amor tenha ficado sozinho no mundo e não tenha telefone.
Se você ainda vier a conhecê-lo mande lembranças
Já fomos chegados, jogávamos uma biribinha, uma sinuca em outros tempos.
Ele sempre ganhava e eu não sei se por trapaça ou ligeireza.
Ele sempre foi melhor nos jogos do que eu.
Mas quando eu olhava seus olhinhos muito claros e lhe mostrava minhas poesias, ele lamentava a minha incapacidade de jogar seus jogos.
E me deixava muda enquanto eu engolia uma lágrima em forma de fungada.

(Carolina Veríssimo)