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terça-feira, 19 de janeiro de 2016
Sobre o ser poeta.
Ser poeta não é bem um ofício.
É feito ter dentro do próprio peito
Um corvo a grasnar todo sem jeito
Tentando se passar por cotovia.
É padecer o mal de cada tempo
Ao mesmo tempo cada alegria
E entregar-se ao passar das horas
Como a tornar-se eterno cada dia.
É ser profano e crente ao mesmo tempo
Vazio e cheio do que atordoa
É ser quem se condena e se perdoa
A cada fôlego e a cada palavra.
É ser toda poesia de um dia cinza
E rejeitar-se e se criar de novo.
É atirar-se a si mesmo aos lobos
E voltar denovo e dilacerado.
Que ser poeta é ser equilibrista
E bêbado, e louco e kamikazi
E algo a sentir bater dentro do peito
E calar e tornar a sentir sem jeito.
Ser imortal e estar cansado.
É ter todo tempo e todo amor do mumfo.
E ser poeta é nunca ter resposta
É viver a cor de cada verso.
É ser mulher e palhaço
E bandido e covarde...
É comer palavras e pão dormido.
E não ser nada
E tudo ao mesmo tempo.
E ser tempo que se perdeu
É esquecimento e solidão
É ser aquele a errar no mundo
A se buscar ou acertar, senão.
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